domingo, 9 de maio de 2010

Historia de uma Mãe

Havia uma sofredora mulher que velava aflita, à cabeceira do filhinho doente, quando a Morte chegou para buscá-lo.


Sem que ela pudesse ensaiar qualquer defesa, a Morte arrebatou o menino da cabana. Desesperada, a mãezinha saiu a gritar para rever o pequenino, mas a Morte veloz desaparecera.

Chorando, avançou a infeliz, estrada a fora, quando, em plena noite, encontrou uma mulher que poderia encaminhá-la; mas esta, em troca da informação, pediu-lhe para cantar todas as canções com que embalava o filho.

Embora em lágrimas, ela repetiu todas as cantigas com que afagava o pequenino, ao pé do berço.

A mulher ensinou-lhe, então, que a Morte se dirigira para certo espinheiro. A pobre mãe alcançou-o, mas o espinheiro, para ajudá-la, exigiu que ela o abraçasse.

Sem vacilar, a desditosa mãezinha enlaçou-o, aquecendo-lhe os espinhos que a noite gelara...

Quando o seu corpo já se mostrava coberto de chagas, o espinheiro explicou que

a Morte seguira no rumo do grande lago.

A peregrina, ensangüentada, chegou ao lago, mas o lago fazia coleção de pérolas e,

para prestar-lhe o serviço, pediu-lhe os belos olhos.

A infortunada viajante arrancou os próprios olhos e os deu para o lago. O lago, desse modo, transportou-a, ferida e cega, para o outro lado da terra, onde a Morte costumava guardar as criancinhas.

Era um grande cemitério, guardado por monstruosa mulher que, para ensinar-lhe

o lugar exato onde a Morte aportaria naquela noite, lhe reclamou a linda cabeleira.

Sem qualquer hesitação, ela deixou-se tosar e, logo após, quase irreconhecível,

foi colocada em posição de perceber a chegada do pequeno que procurava.

Esperou... esperou... esperou...

Em dado instante, ouviu que a Morte regressava com os meninos que recolhera.

Atenta, escutava as vozes diversas, qual se registrasse a presença de um bando

de passarinhos, quando, dentre todas, distinguiu o choro de seu próprio filho e,

apesar de cega, avançou para ele, gritando, jubilosa:

- Meu filhinho!...

- Meu filhinho!...

- E agarrou-o nos braços, a beijá-lo, enternecidamente.

A própria Morte, emocionada, perguntou-lhe então:

- Como fizeste para chegar aqui, antes de mim?

Ela, chorando e rindo, pôde apenas dizer:

- SOU MÃE.

Nenhum comentário: